quinta-feira, 30 de junho de 2016

A idade do pijama



A velhice tem lá suas benesses: ir ao Banco no horário de pico e bem na sua vez, chegar para ser atendido na sua frente, merecendo aquele seu sorriso mais amarelo; servir-se antes de todos e pegar o bife maior e mais suculento da travessa, e ainda dizer que nem está com fome; reclamar em alto e bom tom de absolutamente tudo e ninguém se incomodar; sentar-se na cadeira mais confortável da casa e assistir a mulher da Iogurteira Top Therm num volume audível num raio de 150mts…

Enfim, eu poderia ficar aqui listando inúmeros privilégios da 3ª idade. Veja bem, não estou criticando, isso é um direito inegável, mesmo porque ainda chego lá!

Contudo, o maior benefício da velhice é ficar invisível. Virar paisagem, cadeira, muro. E isso dá uma liberdade incrível. Neste inverno conheci uma velhinha que já não tira mais o pijama para sair de casa. Veste um roupão por cima e sai. Eu a encontrei assim, roupão, pijamas e chinelo de pano na padaria. Três vezes.

Na terceira, resolvi segui-la.

Pensei: ela está certa, e dentro de alguns anos eu também vou fazer isso. Eu também quero poder acordar e ir para a padaria, do jeito que estiver. Pensei ainda: ela deve morar aqui na rua mesmo, que nem eu. Por que ela pode ir de pijama para a padaria e eu não? Daí que me veio: porque ela já se tornou invisível.
Segui a Senhorinha para ver onde morava. Não era na minha rua, nem na rua de baixo, nem na rua seguinte. A velha mora a mais de quatro quarteirões daqui e mesmo assim, pijamas! Pensei: bem, é inverno, tudo bem.

Então, na semana passada, aquele calor de rachar, encontrei a velha de camisola transparente esvoaçante na padaria! Que velhice que nada. Uma sem-vergonha, isso sim!


Serviço:
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Fernanda M Carracedo

sexta-feira, 10 de junho de 2016

E depois de toda aquela escuridão: deu-se a luz!


          (Foto anterior ao ocorrido)
Consegui ir para a cama antes das 22h sem checar meus e-mails, facebook, blog e mensagens de whatsapp.
Não assisti nenhum episódio dos meus seriados favoritos, simplesmente deitei no peito do meu marido querendo dormir.

Nossos filhos estavam fora, só estávamos nós dois no breu do quarto, no escuro da nossa casa. O domingo estava indo embora e uma nova semana apareceria ao raiar do sol.

Queríamos descansar nossos corpos e mentes das cenas que vivenciamos nas últimas horas.

Sábado, casa cheia de amigos, bandeirinhas devidamente colocadas enfeitavam minha sala. Mesa posta com as mais deliciosas guloseimas de festa junina: canjica, arroz doce, paçoquinha, cuscuz, cachorro quente, quentão!

Música de quadrilha tocando no aplicativo do celular.
Crianças brincando, adultos brindando. Alegria da reunião.
Os encontros com essa turma são sempre regados dos sons das risadas enquanto jogamos mau-mau.

Depois da comilança partimos para a jogatina. Que delícia impedir que o outro vença. Temos nossas próprias regras do jogo e nos divertimos demais.

Olha a chuva! Foi uma das coisas que escrevi no quadro de recados. E foi por esse motivo que a festa junina foi dentro de casa.

Lá pelas tantas após a meia noite, entre raios, trovões e gargalhadas do jogo algo errado aconteceu.

(Foto: Divulgação/Rafael Coutinho)

Algumas pessoas sentiram certa pressão no ouvido, a luz se apagou e começamos a ouvir um barulho forte, como se uma grande chuva de granizo fosse derrubar alguns vidros da minha casa.
Crianças gritavam, o barulho parecia mais forte. Num repente parou.

Aproximadamente 2 minutos.

Quando nos demos conta havia um estrago do lado de fora da casa. Árvores caídas no quintal bloqueavam a saída da garagem de casa.
Engenharia para arrumar lugar para todos dormirem. Psicologia para acalmar as crianças. Tudo escuro. Vamos dormir!

Ao acordarmos tivemos uma real dimensão do que havia acontecido.
Telhas do vizinho voaram sobre meu telhado. Uma calha metálica havia deixado um risco no carro de um amigo.

Um pedaço do telhado da garagem caiu entre os carros meu e do meu marido.
Meus coqueiros estavam no chão, caídos com suas raízes para cima. Cena de filme americano.

Ao sair para caminhar pelo condomínio percebi que minha casa tinha sido preservada e que muitas famílias haviam perdido o telhado todo, móveis, carros. Cenário devastador. Chorei!

Árvores e mais árvores caídas pelas ruas, calhas presas nos fios elétricos, cacos de telha, vidros, e concreto espalhados por todos os cantos. Parecia guerra ou cena do filme do Jumanji, achei que a qualquer momento animais selvagens sairiam de algum arbusto.

Amigos arregaçaram as mangas e com serras, machados e união conseguiram liberar a saída de casa.
O cenário era desolador e a chuva voltou a cair sobre as casas sem telhados, sobre as pessoas que trabalhavam incessantemente para recolher um pouco destroços.
Percebi uma movimentação de grande cooperação por um lado. Infelizmente também vi muitas pessoas apenas preocupadas em filmar e tirar selfies usando a destruição alheia como fundo de suas fotos.
Pessoas sacavam seus celulares mas não estendiam suas mãos.
Na minha casa surgiu caixa de isopor com gelo trazido por uma moradora do outro lado do condomínio. Ofereceu banho, pipoca e televisão para as crianças. Fico pensando se o lado contrário do condomínio fosse afetado estaríamos nós de mangas arregaçadas para ajudá-los.
Primos vieram nos ajudar e acabaram ajudando muitos outros do condomínio.
A solidariedade deve imperar.

A natureza é implacável e mostra nossa pequenez.

Podemos ser varridos do mapa. Dessa vez fomos preservados.
Agradeço aos amigos, desconhecidos e família maravilhosos que nos ajudaram.
Que nos cederam um banho quentinho, um belo prato de comida, wifi, máquina de lavar roupas, sua força física...

E depois de 3 dias sem energia elétrica, deu-se a luz!
A reconstrução segue, a vida segue e o amor nos guia!

Andréa Cristina Figueira



Abaixo algumas fotos do quintal da minha casa: