Dia desses, remexendo no baú das coisas que escrevo encontrei um texto da época da minha primeira gestação.
Eu estava com 29 e algo que me chamou atenção naquele momento foi um fio de cabelo branco que resolveu aparecer. Aqui está o texto na íntegra:
“Dentre as tantas manifestações que ocorrem no universo feminino durante a gestação, uma delas se destacou.
Perdido entre os milhares de habitantes capilares, um fiozinho tímido demarca território. Pequeno, fino, bem curtinho, mas branco, que de tão branco tornou-se único. Deixemos ele de lado por enquanto.
Tão incríveis mudanças, tantos momentos mágicos. Saber que um serzinho está em seu ventre.
Cada mês, semana, dia, sua barriga sarada dá lugar à uma barriga imponente, cheia de personalidade. Chama atenção e se mostra um milagre maravilhoso.
Saber que outro coraçãozinho bate dentro de você…
Ah! Quanta emoção, quanta sensibilidade, quanta vontade de agradecer à Deus a maravilha de ser mãe!
Olhar através de uma tela que mostra quem está dentro de você. Aquela coisinha se mexendo, as vezes até pulando e com o coraçãozinho acelerado.
E a sensação de saber o sexo do bebê? É uma menina… Gabriela! Sim, é a Gabi que habita meu ventre.
Felicidade, emoção, sensações diversas tomam conta do seu ser. Você se vê em outra realidade, outra dimensão talvez.
É estranho, é louco, é real.
E juntamente com esse instante mágico surge a prova de que as coisas mudaram, aquele cabelo branco é a prova de que a maturidade chegou, que de fato a fase da vida é outra e se faz vibrar. Não branca como o fiozinho de cabelo, mas colorida como o rajar das múltiplas sensações boas que se situam dentro do meu ser.
Obrigada Papai do Céu pelo privilégio de ser eu, Andréa, a mãe da Gabi!”
Lembro-me bem como estava física e emocionalmente após o nascimento da Gabi, faltavam poucos meses para eu completar 30 anos, entrar na era balzaquiana.
Estava gordinha, foram 23kg ganhos durante os nove meses de gestação e quase dois anos para perdê-los.
Apesar da felicidade de uma filha nos braços, o cansaço e estrutura emocional estavam bastante abaladas. O corpo pedia socorro.
Hoje, prestes a completar 40 anos, com dois filhos lindos e uma quantidade bem maior desses habitantes capilares nada agradáveis, me sinto bem, inteira, renovada e feliz.
Os primeiros sinais de puberdade aparecem na minha filhota. Minha maturidade é outra. Passei por coisas que jamais imaginei passar. Mudanças profissionais, emocionais, psicológicas.
Valorizo as pequenas coisas da vida: o pôr do sol, os sorrisos dos meus filhos, as horinhas a sós com meu marido, os cafés com amigas, meus finais de semana sem descanso pois tenho muitos amigos e festas de aniversário sem fim.
Num balanço geral da minha vida tenho bem mais ganhos do que perdas. E enquanto os anos vão se passando as experiências e os cabelos brancos vão aumentando. Ainda estou na fase de não achar que eles me pertencem - os cabelos brancos - a experiência é sempre válida.
E você, o que anda fazendo para valer seus dias vividos?
Andréa Cristina Figueira